Desde que a Lavínia nasceu, eu não consigo olhar para outras mães com os mesmos olhos. Nem para as outras crianças. Nesses dias, de inverno aqui em São Paulo, fico com o coração apertado quando vejo aqueles bebês tão pequeninos enrolados, sendo carregados nas ruas por suas mães.
Eu sei que a maior parte dessas mulheres que sai com o filho no frio, às 7 horas da manhã, (ou até antes) não tem a opção de ficar em casa, cuidando deles. Elas agasalham seus filhos da melhor forma que podem, e os levam para as creches, geralmente usando o transporte público. Você nota que muitas dessas crianças estão com o narizinho escorrendo, com o olhinho caído, mas vão do mesmo jeito – afinal, suas mães não podem faltar novamente no trabalho, sob o risco de perderem seus empregos. E aí eu penso: “como é difícil ser mãe e não ter ajuda nesse mundo".
Eu sei também que, depois de levantarem mais cedo para deixarem seus filhos na escolinha, essas mães trabalham duro. Ralam o dia todo (algumas cuidam dos filhos de outras mães) e fazem o caminho de volta correndo, porque não têm com quem contar para pegar essa criança na hora da saída. Ou ela está lá, ou ela está lá, não tem jeito! Faça chuva, sol, geada, neve, ela sabe que precisa dar um jeito na sua rotina para cuidar do filho.
Em uma escala muito menor, eu tenho passado por essa experiência, e posso dizer que é difícil pra caramba! Moro em um bairro do centro, mesmo tendo meus pais muito próximos, a filha é minha, logo, eu sou a responsável por ela. (e ainda pra ajudar não há um pai presente). Por isso, no dia a dia, não posso contar com eles para ficar com a pequena. Onde eu vou, levo a minha "mini sombra" kkk. Pra ajudar, estou sem carro e ainda não consegui colocá-la na creche. Tudo tem que ser milimetricamente calculado, porque sei que posso ficar presa no trânsito, aí atrasa almoço, lanche, sem contar com as fraldas sujas quando menos se espera. E antes que me perguntem, escolhi trabalhar com horário flexível, mas muitas vezes tenho que sair cedinho com ela " debaixo dos braços" mas mesmo assim se eu tivesse ajuda seria perfeito.
Se você não tem ajuda, o pior acontece quando o filho fica doente, e você se percebe entre a cruz e a espada: “trabalho e o deixo doentinho na escola? Ou mando tudo para o alto e encaro a possibilidade de perder um emprego realmente bom, que demorei tanto para conquistar? Desmarco aquela reunião que poderia mudar minha carreira?”. Ou talvez quando é você quem fica doente! Porque você precisa levantar para cuidar do pequeno, mesmo que seu corpo inteiro está latejando. Você pensa: “mas como é que eu vou conseguir?”. Mas você consegue, simplesmente porque não tem opção. Porque nos dias de hoje, muitas vezes você não pode contar com sua mãe para cuidar da neta, e também não é obrigação dela, já que cuidou a vida inteira dos filhos.
Não se trata de querer terceirizar o filho, não é isso. Mas é a simples constatação de que, se você não tem uma babá, um motorista, etc, vai ter que repensar toda a sua vida para conseguir dar conta da sua rotina, e da do seu filho. Infelizmente não vivemos mais como há algumas décadas, em que nós, mulheres, tínhamos muito mais ajuda de quem estava próximo. Vivemos cada vez mais isoladas, em cidades cada vez maiores, e onde o deslocamento urbano caótico nos impede de podermos contar com os outros. E não temos a infraestrutura de países que apostaram na paternidade/maternidade, ampliando tempo de licença pós-parto, estimulando turnos flexíveis de trabalho, tanto para a mãe quanto para o pai, para que esse possa, de fato, estar presente.
Não vivemos mais em aldeias, em que todos olham e cuidam de todas as crianças. Precisamos dar conta sozinhas. E mesmo que você tenha alguém para te auxiliar, saiba: o problema pode não estar na sua casa, mas ele existe (já parou para pensar onde estão os filhos da sua babá?). Precisamos pensar sobre isso e buscar alternativas. Porque é muito, difícil de ser mãe e não ter ajuda?
Beijos
Cah Teixeira